Da sua infância e juventude, a autora recorda sobretudo a
importância das casas, lembrança que terá grande impacto na sua obra, ao
descrever as casas e os objectos dentro delas, dos quais se lembra. Explica
isso do seguinte modo: "Tenho muita memória visual e lembro-me sempre das
casas, quarto por quarto, móvel por móvel e lembro-me de muitas casas que
desapareceram da minha vida (…). Eu tento «representar», quer dizer, «voltar a
tornar presentes» as coisas de que gostei e é isso o que se passa com as casas:
quero que a memória delas não vá à deriva, não se perca" Está presente
em Sophia também uma ideia da poesia como valor transformador fundamental. A
sua produção corresponde a ciclos específicos, com a culminação da actividade
da escrita durante a noite: "não consigo escrever de manhã, (…) preciso
daquela concentração especial que se vai criando pela noite fora.". A
vivência nocturna da autora é sublinhada em vários poemas ("Noite",
"O luar", "O jardim e a noite", "Noite de Abril",
"Ó noite"). Aceitava a noção de poeta inspirado, afirmava que a sua
poesia lhe acontecia, como a Fernando Pessoa: "Fernando Pessoa dizia:
«Aconteceu-me um poema». A minha maneira de escrever fundamental é muito
próxima deste «acontecer». (…) Encontrei a poesia antes de saber que havia
literatura. Pensava mesmo que os poemas não eram escritos por ninguém, que
existiam em si mesmos, por si mesmos, que eram como que um elemento do natural,
que estavam suspensos imanentes (…). É difícil descrever o fazer de um poema.
Há sempre uma parte que não consigo distinguir, uma parte que se passa na zona
onde eu não vejo." A sua própria vida e as suas próprias lembranças
são uma inspiração para a Autora, pois, como refere Dulce Maria Quintela
ela "fala de si, através da sua poesia".
'Sofia de Melo
Breyner Andresen fez-se poeta já na sua infância, quando, tendo apenas três
anos, foi ensinada "A Nau Catrineta" pela sua ama Laura (Quintela,
op.cit:112):
"Havia em minha
casa uma criada, chamada Laura, de quem eu gostava muito. Era uma mulher jovem,
loira, muito bonita. A Laura ensinou-me a "Nau Catrineta" porque
havia um primo meu mais velho a quem tinham feito aprender um poema para dizer
no Natal e ela não quis que eu ficasse atrás… Fui um fenómeno, a recitar a
"Nau Catrineta", toda. Mas há mais encontros, encontros fundamentais
com a poesia: a recitação da "Magnífica", nas noites de trovoada, por
exemplo. Quando éramos um pouco mais velhos, tínhamos uma governanta que nessas
noites queimava alecrim, acendia uma vela e rezava. Era um ambiente misto de
religião e magia… E de certa forma nessas noites de temporal nasceram muitas
coisas. Inclusivamente, uma certa preocupação social e humana ou a minha
primeira consciência da dureza da vida dos outros, porque essa governanta dizia:
«Agora andam os pescadores no mar, vamos rezar para que eles cheguem a terra»
Trabalho realizado por:Daniela Valente e Daniela Santos
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